Por muitos anos, as companhias circenses foram as únicas a levar espetáculos culturais aos mais distantes cantos do Brasil. E permanece assim para uma parte da população, ainda excluída, que não tem condições de frequentar cinemas, shows, teatros.
Presente no país desde o começo do século 19, já encantou gerações e até hoje tem muitos nomes registrados na história da arte nacional, como é o caso dos palhaços Piolin, Arrelia e Carequinha. Como todas as demais áreas culturais, essa também está sofrendo com a pandemia do coronavírus, o que tem impossibilitado o trabalho desses profissionais.Vivendo de forma itinerante, os circos passam por situação bem preocupante.
“Cada um está tentando se virar de alguma maneira, seja vendendo maçã do amor, algodão-doce, balas, bolas, ou fazendo ações em grupo, como lives na internet ou mesmo se arriscando em apresentar espetáculo no esquema de drive-in”, conta Roberto Junior, dono do Millennium Circus- Circo do Palhaço Nervosinho e também palhaço da companhia que tem seu nome, com mais de 40 anos de estrada, e que estava montado em João Pessoa, na capital da Paraíba.
Para dias de escassez de trabalho como os atuais, Junior descreve a situação momentânea de seu circo como a mesma enfrentada por outros grupos. Segundo ele, a companhia depende da bilheteria para sobreviver. “A população ajudou com algumas cestas básicas, mas a despesa de um circo é grande. As dívidas se acumulam e, a cada dia, a gente vê o risco de fechar as portas”, desabafa. Apesar do momento difícil, ele entende que a situação é inesperada. “Não podemos culpar ninguém.”
A situação vivida pelos circos no Brasil não é diferente da enfrentada por outros grupos pelo Brasil. É o que relata, Renato Paiva dono do Circo do Palhaço Wolverine, originário da quarta geração de uma família tradicional dessa arte. “Fomos o primeiro segmento a parar e, pelo que vemos, seremos os últimos a retomar nossas atividades, o que dá muito medo ao grupo”, diz Renato.
Compactuando do mesmo pensamento, Marlene Querubim, gerente do Circo Spacial e presidente da União Brasileira dos Circos Itinerantes (UBCI), acredita que o retorno às atividades está próximo, mas a preocupação é com o medo do público em voltar a frequentar os espetáculos.
“Creio que vai demorar muito para o público retornar, especialmente pela questão financeira, pois houve uma descapitalização das pessoas que vão ao circo”, afirma. Com otimismo, crê que a retomada não atingirá nem 10%. “É um ano perdido para o circo.” Ela estima que 30 mil pessoas vivem do circo no Brasil entre artistas, técnicos e funcionários. (Agência Estado).